quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Candidatos pedem anulação do concurso da Defensoria Pública do Rio de Janeiro





O tão esperado concurso da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro parece não ter agradado a muitos candidatos. O Ministério Público do Estado já registrou cerca de 300 denúncias referentes à seleção e, ainda, na última segunda, dia 18, o órgão recebeu um abaixo-assinado, com 260 assinaturas de participantes pedindo a anulação do processo seletivo.
"Os fatos estão sendo encaminhados à Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Cidadania, que vem atuando em várias investigações similares envolvendo concursos públicos", informou o ouvidor-geral do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Gianfilippo Pianezzola.
As reclamações vão desde a organização do concurso até o alto nível de dificuldade dos exames. Após a aplicação das provas de técnico superior jurídico, dia 10, e técnico médio de defensoria, dia 12, a FOLHA DIRIGIDA vem recebendo diversos telefonemas e e-mails de candidatos inconformados com o desempenho do Cepuerj, organizador do concurso.

Muitos candidatos informaram, inclusive no fórum de discussão na FOLHA DIRIGIDA Online, de que, em diversos locais, os envelopes com as provas do concurso chegaram sem o lacre, o que, segundo eles, coloca em xeque a segurança da seleção e o sigilo das provas. Outros candidatos relatam ainda que não havia provas suficientes em todos os locais, obrigando os fiscais a terem que solicitar os cadernos de questões em outras salas de aplicação. Isso teria ocorrido na Uerj, na Suam e na Universidade Estácio de Sá (campus Jacarepaguá).
O estudante Leonardo Cardozo Vargas, de 31 anos, que concorre ao cargo de técnico médio de defensoria, disse estar decepcionado primeiramente com a falta de preparo dos fiscais. "Embora o número de fiscais fosse significativo, a quantidade que tinha não estava bem orientada. Os fiscais ficavam aglomerados e, ainda, conversando. Eu mesmo, que sentei na primeira carteira, ouvi as três fiscais que estavam na minha sala dizendo que nem sabiam a prova que estava sendo aplicada. Elas achavam que era exame do Tribunal de Justiça, ou seja, os fiscais nem sabiam o que estavam fazendo ali", destacou o candidato, que fez a avaliação na UniverCidade de Madureira.
Segundo ainda Leonardo, não houve fiscalização dentro dos banheiros e a sala em que fez a prova era muito pequena para tantos candidatos, o que facilita a cola. A mesma reclamação foi feita pelo analista de sistemas Mario do Nascimento, de 29 anos, que fez o exame de nível médio no bairro de São Domingos, em Niterói. "A sala estava bem apertada para cerca de 50 pessoas. Eu fiz questão de sentar na primeira cadeira e puxá-la bem para frente, mas, ainda assim, não estava bem separado. Além disso, os fiscais deixaram a sala sozinha por várias vezes. Tudo isso, sem dúvida, facilitou a cola de muitos", comentou.

Embora tenha alcançado 68 pontos na prova, Mario disse que o desempenho poderia ter sido bem melhor, tendo em vista que investiu pesado na preparação. "Estudei muito mesmo, inclusive me matriculei em cursinho. O meu desempenho, dentro daquilo que foi apresentado na prova, foi até bom. Achei o nível de dificuldade bem acima daquilo que foi pedido no edital", destacou o participante, que já registrou a denúncia no Ministério Público.
A advogada Adriana Rodrigues Gil, de 26 anos, que concorreu aos dois cargos oferecidos pela Defensoria, também questionou o nível exigido nas provas. "A parte de Direito da prova de técnico médio de defensoria é realmente bastante complicada para quem tem apenas o 2º grau. Só quem já atua na área conseguiu fazer a prova. Já no exame de nível superior, achei absurda a exigência em Português, fora do comum do que tenho visto em outros concursos. Achei, inclusive, que o Cepuerj não sabia sequer as perguntas que estava formulando. Encontrei mais de uma resposta certa em algumas questões de Direito", analisou.


Há também quem defenda a organização
Embora muitos candidatos tenham criticado a organização do concurso, há também quem defenda. Esse é o caso do candidato Gustavo (não quis informar o sobrenome), que ligou para a Redação da FOLHA DIRIGIDA. Ele, que fez provas nos dias 10 (técnico superior jurídico) e 12 (técnico médio), acredita que não há motivos para se anular o concurso.
"A organização do concurso foi muito boa nos dois dias de avaliação. Pode não ter sido 100%, mas, na minha opinião e de outros amigos, não ocorreu nada que afetasse a segurança das provas e que pudesse anular o concurso", disse.
O candidato alega, inclusive, que em seu local de prova, na UFF (em Niterói), os fiscais foram bastante rígidos. "Tentei fazer prova com relógio analógico e os fiscais não permitiram. Precisei ir ao banheiro duas vezes na prova de analista e uma vez na técnico e em todas os fiscais me acompanharam até a porta", explicou.
Para Gustavo, acredita ser desnecessário acionar o Ministério Público Estadual para pedir a anulação do concurso. "Minha pontuação foi abaixo da prevista. Estou lutando pela anulação das questões, o que é correto, e não a anulação do concurso. O que deve ser anulado são as questões problemáticas e, para isso, é preciso entrar com recursos. Tem gente falando que eles querem previlegiar quem trabalha na Defensoria, mas conheço três pessoas que trabalham lá e não alacançaram a pontuação mínima para aprovação", afirmou.



Cepuerj anulará as questões copiadas
As questões nº 39 e nº 51 da prova de técnico médio de defensoria estão sendo contestadas por parte de candidatos e professores, tendo em vista que as mesmas foram aplicadas este ano no exame de juiz do trabalho substituto da 1ª Região (TRT-RJ), cuja banca foi o Cespe/UnB.
De acordo com a coordenadora de Concursos e Processos Seletivos do Cepuerj, Márcia Caoduro, caso seja comprovada a reutilização das questões, as mesmas serão anuladas.
"Eu vi alguns comentários a respeito desse assunto, mas não sabia quais eram as questões a que os candidatos estavam se referindo. Agora, com os números em mãos, vou averiguar junto à banca. Caso tenham sido mesmo copiadas, sem dúvida, serão anuladas. Além disso, o professor que copiou a questão, seja ele quem quer que seja, será penalizado. Afinal, ele foi pago para elaborar questões inéditas", adiantou.
A questão nº39 da prova de técnico médio é igual à questão nº19 da prova de juiz do TRT-RJ. O mesmo ocorre com a questão nº51, que é cópia da nº9 da prova de juiz. Houve apenas a retirada de um item e a inversão das respostas.

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